segunda-feira, 19 de abril de 2010

A igreja evangélica e uma pedra entre as teses, templos, aviões e os carrões

Manaus, AM


No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Mas não era uma pedra qualquer
Era meio esbranquiçada
Que era queimada num cachimbo
        ou numa latinha de alumínio, em improviso
Era uma pedra mortífera
Matou e matou muito,
Sonhos e almas queridas
Decepou vidas e felicidade
A pedra de crack.
(a triste história de mães e famílias que perderam filhos para as drogas)


          Nesta noite (19 de abril de 2010) a Rede de TV Record apresentou uma extensa reportagem sobre o crack (A epidemia do crack). A sucessão de histórias dramáticas e horripilantes me fez escrever estas poucas linhas. A parte que mais me chocou foi a de recem-nascidos de dois a cinco dias de vida que têm distúrbios físicos, dinâmicos e psicológicos em razão de crises de abstinência. Para mim é a imagem do inferno de Dante, para quem quiser ver.

          E aí me veio um questionamento enquanto membro de uma igreja evangélica aqui no Amazonas. Confesso que me senti envergonhado. Frente a essa epidemia das drogas não fazemos nada! Necadepitibiriba!

          A igreja evangélica brasileira está omissa na evangelização e nas missões urbanas, especificamente na prevenção e nas ações de tratamento de adictos e assistências às famílias.

          A igreja perdeu o foco, deixou de levar a boa semente, desviando-se para o dispêndio de fortunas em templos confortáveis e suntuosos, expressão da “prosperidade” do ministério. Também não há modéstia nos gastos com programas televisivos, alguns que não pregam em momento algum o evangelho. Pra falar a verdade alguns são programas “pé-de-cabra”, pois despregam o evangelho (certamente você já viu um que sempre responde a um insistente SMS – mensagem de celular - sobre sexo anal, não viu?). Já existem os ministérios que sem escrúpulo algum ostentam (mais uma vez como sinal de seu sucesso) aviões e carrões. Está montado um esquema de arrecadação de montanhas de dinheiro, devidamente sistematizado (veja o caso dos vídeos em que líderes religiosos passam o bizu como arrancar dinheiro dos incautos – disponível na Folha Online ). Outras há que se embrenharam sem o devido cuidado pela busca do poder político temporal (implantar o reino de Deus agora!) e para isso (na acuidada observação de Luis Inácio Lula da Silva) já se aliançaram com Judas Iscariotes e até mesmo com o Chifrudo. E a coisa está tão feia que tem gente, reconhecendo ser pecador imperdoável, que se recusa a ir para o mesmo inferno de amados irmãos políticos.

          Os pastores, hoje em dia, não têm nenhum remorso em estarem bem instalados em mansões, terem a disposição carrões de luxo e acumularem um patrimônio incompatível com o honorável ministério pastoral. Que saudade do pastor Guedes. O meu Jesus certamente os chamaria de covil de ladrões. Enquanto isso pessoas morrem vitimadas pelas drogas.

          A igreja está insensível aos dramas psicológico, físico e espiritual dos adictos e ao drama social das famílias.

          Enquanto ARROTAMOS nossa altíssima espiritualidade dentro dos templos suntuosos, as vítimas das drogas se multiplicam, as dores das famílias se avolumam e vidas são ceifadas sem conhecerem o amor do meigo Jesus.

          Certamente ao ler este texto alguém se lembrará da passagem bíblica em que um discípulo questiona a mulher que gasta um bom valor com especiarias para ungir Jesus e vai dizer: “esse aí quer questionar para onde vai os dízimos e as ofertas”. Mas a pergunta não cala: estamos nos esforçando para arrebatar alguns do fogo?

          O certo é que hoje a parábola do bom samaritano serve apenas para ser tema de teses e dissertações nas escolas de teologia, com a finalidade pífia e antibíblica de conceder títulos e outras besteiras para seus egressos. A prática teológica há muito foi abandonada, e o reino das trevas avança.

          Levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá!

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